DANIEL
JONAS
SE NÃO TE AMAREM
FINGE QUE NÃO AMAS.
E se te amassem
outro amariam:
E só a si, se bem
que fingiriam
Amar-te e dar-te a
ti o que reclamas.
Pois mesmo que te
amassem mentiriam.
E se amam outro a
si outrossim amam
E noutrem só a si
mesmo reclamam,
Que amante e coisa
amada se diriam...
E porque hás-de
fingir que amam a ti
Se não se amam em
ti sequer mas noutro?
Porque hás-de amar
alguém que ama nestoutro
A imagem de si
mesmo, e só a si?
Esse ama quem não
te ama, afinal…
E mesmo que ame,
esse é o teu rival
–//–
PERDOA-ME, SENHOR, POR NÃO SER DIGNO
De mim, de mim sou escasso, o meu fracasso,
Sou qualquer coisa aquém de quem não faço
Ideia, sendo esquivo ao próprio signo.
Oh, vai mudando sempre o meu destino.
Onde me pus? Nem sei... Sou um mendigo.
Acarto com a casa do que digo
E lúcido de próprio desatino.
De mim já fui capaz, agora sou
Só velho, sobre mim me mesurando,
Vassalo e suserano de mim mesmo.
Do meu sonho, o que resta, acordou?
E a mola de rapaz cercas pulando?
Um velho vê cercado o seu sesmo…
(de Nó – sonetos, Assírio Alvim, 2014)
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