28.7.14



RUI CAEIRO



Percorra a gente os caminhos que percorrer, Travessa dos Remolares incluída, sempre em nosso desnorte alguma coisa procuramos - ainda quando aparentemente estamos a fugir de qualquer coisa, às vezes nem sabendo bem de quê, ou ainda quando fugimos daquilo que procuramos ou procuramos aquilo de que fugimos.
Após tão arrevesado parágrafo, regressemos ao que ora importa, isto é, que remédio, à Travessa dos Remolares ela mesma.
Quem por lá passa, e não sei porquê (ou não sei eu outra coisa) nunca são muitos os que por lá passam, procura o quê?, foge de quê?, encontra o quê?
Há para mim mais metafísica, isto é, mais fonte de perplexidade, nestas três perguntinhas - ainda que a resposta devida a cada uma delas não passe de de um atónito «nada!» - do que nos terríveis labirintos dos livros sagrados: toras, bíblias, corões...
Percorrer a Travessa dos Remolares inculca, quer pela pequenez da artéria, quer pelo que nela há de insuportável, sair de lá quanto antes. Que aquilo não é sítio para um peão se demorar. Sair, tão depressa quanto possível, para depois trazer a rua agarrada à sola dos sapatos, à laia de algo que se pisou sem querer.


(excerto de Travessa dos Remolares, Paralelo W, 2013)

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