GRUPO KRISIS
Quem, hoje em dia perguntar a si próprio qual o conteúdo, o
sentido ou a finalidade do seu trabalho, enlouquece – ou torna-se factor de
perturbação do funcionamento autotélico da máquina social. O homo faber,
outrora orgulhoso do seu trabalho, e que, ao seu modo limitado, ainda levava a
sério o que fazia, está hoje tão fora de moda como uma máquina de escrever. A engrenagem
social tem de continuar a funcionar a qualquer preço, e ponto final. Quanto à
descoberta do sentido, para isso existem os departamentos de publicidade, exércitos
inteiros de animadores e de psicólogas de empresa, os consultores de imagem e
os «dealers» da droga. Quando se propagandeia interminavelmente o lema da motivação
e da criatividade, é certo e sabido que de uma e da outra já nada sobra…, a não
ser enquanto auto-engano. É por isso que hoje as capacidades de auto-sugestão,
de autopromoção e de simulação de competências se contam entre as virtudes mais
importantes dos gestores e das trabalhadoras especializadas, das estrelas dos media e dos contabilistas, das professoras e dos arrumadores de automóveis.
(excerto de Contra o Trabalho, tradução de José Paulo Vaz,
2.ª ed.: Antígona, 2017)
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