Sabei que a História nunca
Deu razão a ninguém, nem a ninguém
A tirou. A posteridade, tal como
A conhecemos e praticamos
É coisa americana, sabe
A rebuçado de coca-cola e vem
(quando vem) embrulhada
Em plásticos pequeninos, daqueles
Que fazem barulho
Na fila de trás do cinema, entre
As mãos de uma senhora idosa.
Nunca a História (reparai
na maiúscula inicial, no alto
conceito que está em causa)
Foi capaz de conferir
Estatuto de primazia ou firmar
No consciente colectivo a pureza
Dos tidos por bons. Alguns
O asseguram, em teses académicas
Até; desencantam provas
Tão verosímeis e evidentes, aplicam
Placas toponímicas a assegurar
Tais certezas. Dos desejos mal ou nunca
Cumpridos não reza
Essa História, disciplina dos simples,
Manipanso de trazer no bolso
Para consolar a validade da sorte. Aos
Escarros e às deselegâncias
Resta remanescerem em frases
De autocarro e mercearia,
Dichotes de folheto falado entre
Outras basófias de dia-a-dia. Não
Serão o bocejo nem a dor de dentes
Do herói das letras
(ou das artes, em geral) a ser
Tratados condignamente
Em efeméride; antes o luzidio
Soneto, uma ou outra contra-senha
Inaugural dalgum movimento
Mais ou menos importante, mais
Ou menos representativo de toda
Uma geração. Nunca foi
Justa a História, à qual tudo perdoamos
Em nome da erudição, a cuja
Letra damos eventual valor fiduciário
Com que pagamos a boa
Consciência inconsciente dos clássicos.
E não escapamos ao ruído, ao tal
Rumor estrepitoso durante o filme todo;
Incomodados mas sempre presentes,
Para não perder o final
Nem deixar cair a ilusão de mais
Uma obra concluída
A figurar nos futuros almanaques
Com listas de títulos e autores
Compulsadas por amanuenses entediados,
Dedos cotejantes induzidos
Por vigilantes entidades especializadas
Na heterodoxa afasia
Que tanto alívio dá à memória.
Deu razão a ninguém, nem a ninguém
A tirou. A posteridade, tal como
A conhecemos e praticamos
É coisa americana, sabe
A rebuçado de coca-cola e vem
(quando vem) embrulhada
Em plásticos pequeninos, daqueles
Que fazem barulho
Na fila de trás do cinema, entre
As mãos de uma senhora idosa.
Nunca a História (reparai
na maiúscula inicial, no alto
conceito que está em causa)
Foi capaz de conferir
Estatuto de primazia ou firmar
No consciente colectivo a pureza
Dos tidos por bons. Alguns
O asseguram, em teses académicas
Até; desencantam provas
Tão verosímeis e evidentes, aplicam
Placas toponímicas a assegurar
Tais certezas. Dos desejos mal ou nunca
Cumpridos não reza
Essa História, disciplina dos simples,
Manipanso de trazer no bolso
Para consolar a validade da sorte. Aos
Escarros e às deselegâncias
Resta remanescerem em frases
De autocarro e mercearia,
Dichotes de folheto falado entre
Outras basófias de dia-a-dia. Não
Serão o bocejo nem a dor de dentes
Do herói das letras
(ou das artes, em geral) a ser
Tratados condignamente
Em efeméride; antes o luzidio
Soneto, uma ou outra contra-senha
Inaugural dalgum movimento
Mais ou menos importante, mais
Ou menos representativo de toda
Uma geração. Nunca foi
Justa a História, à qual tudo perdoamos
Em nome da erudição, a cuja
Letra damos eventual valor fiduciário
Com que pagamos a boa
Consciência inconsciente dos clássicos.
E não escapamos ao ruído, ao tal
Rumor estrepitoso durante o filme todo;
Incomodados mas sempre presentes,
Para não perder o final
Nem deixar cair a ilusão de mais
Uma obra concluída
A figurar nos futuros almanaques
Com listas de títulos e autores
Compulsadas por amanuenses entediados,
Dedos cotejantes induzidos
Por vigilantes entidades especializadas
Na heterodoxa afasia
Que tanto alívio dá à memória.
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