11.4.18


CHIMAMANDA NGOZI ADICHIE


OITAVA SUGESTÃO

Ensina a tua filha a rejeitar o desejo de agradar. O dever dela não é tornar-se alguém de quem se gosta, o seu dever é ser uma pessoa em pleno, uma pessoa que é honesta e tem consciência da humanidade igual das outras pessoas. Lembras-te de eu te contar como me incomodava que a nossa amiga Chioma me dissesse com frequência que «as pessoas» não «gostariam» de algo que eu queria dizer ou fazer? Senti sempre da parte dela uma pressão implícita para que eu mudasse de modo a me encaixar em algum molde que agradaria a uma entidade amorfa chamada «pessoas». Incomodava-me, porque nós queremos que os que nos são mais próximos nos encorajem a sermos quem somos autenticamente.
Por favor, nunca exerças este tipo de pressão sobre a tua filha. Ensinamos às meninas a agradarem, a serem boazinhas, a serem falsas. E não ensinamos o mesmo aos meninos. Isso é perigoso. Muitos predadores sexuais têm-se aproveitado disso. Muitas raparigas não revelam que foram vítimas de abuso porque querem ser boazinhas. Muitas raparigas passam demasiado tempo a serem «boazinhas» para com as pessoas que lhes fazem mal. Muitas mulheres pensam nos «sentimentos» daqueles que as estão a magoar. Esta é a consequência catastrófica do desejo de agradar. Temos um mundo cheio de mulheres que não são capazes de respirar livremente por serem condicionadas há muito tempo a fazerem tudo por tudo para agradarem.
Por isso, em vez de ensinares à Chizalum a agradar, ensina-a a ser sincera. E bondosa.
E corajosa. Encoraja-a a falar francamente, a dizer o que realmente pensa, a falar com verdade. Elogia-a quando ela o fizer. Elogia-a especialmente quando ela tomar uma posição que seja difícil ou pouco popular porque acontece que é a sua posição sincera. Diz-lhe que a bondade é importante. Elogia-a quando ela se mostrar bondosa com os outros. No entanto, ensina-lhe que a sua bondade nunca deve ser tida como certa. Diz-lhe que também ela merece a bondade dos outros. Ensina-a a defender o que é dela. Se outra criança pegar no brinquedo dela sem a sua autorização, recomenda-lhe que o reclame, porque o seu consentimento é importante. Diz-lhe que se alguma coisa alguma vez lhe causar desconforto deve falar, deve dizê-lo, deve berrar.
Mostra-lhe que não precisa de que toda a gente goste dela. Diz-lhe que se alguém não gostar dela, haverá outras pessoas que gostarão. Ensina-lhe que não é um mero objeto de quem se gosta ou não se gosta, é também uma pessoa que pode gostar ou não gostar. Na adolescência, se voltar para casa a chorar por causa de alguns rapazes que não gostam dela, faz-lhe saber que pode optar por não gostar desses rapazes – sim, é duro, eu sei, basta-me recordar a minha paixoneta pelo Nnamdi na secundária.
De qualquer modo, gostava que alguém me tivesse dito isto.


(in Querida Ijeawele – Como Educar para o Feminismo, tradução de Ana Saldanha, Publicações Dom Quixote, 2018)

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