ANTÓNIO RAMOS ROSA
Tocar com um dedo, auscultar
a pulsação,
o ritmo único das pedras do deserto,
algumas ervas ou talvez estrelas,
talvez apenas uma haste silenciosa
e, todavia, saber arriscar tudo
num jogo em que a pobreza é extrema
e o desastre de um exacerbado múltiplo
pode fragmentar o prisma incorruptível
e desviar o dardo da divina desmesura.
A mão, no entanto, escruta e suscita
as constelações tecidas pela matéria
do silêncio num alvor de navio
e as torres lentas das pulsações
ao longo das veias
com janelas abruptas e ardentes.
Há um assombro nos músculos e palavras
e os olhos são porosos como os seixos.
Fulminado pelo impossível, o poema
sustenta-se sobre o ilegível
entre a plenitude e o nada.
(de O Centro Inteiro, em colaboração com Agripina Costa Marques e António Magalhães, Cadernos Solares, 1993)
dois docinhos do Xana
Há 3 horas
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