HÉLIA CORREIA
Era uma vez um homem que nascera muito sábio. Ora, às vezes, tal facto aborrecia-o muito. Sempre com o nariz enfiado em livros velhos, sempre a escrevinhar relatórios para enviar aos outros sábios que moravam longe - naquele tempo não havia telefone -, sempre a pensar e a repensar, a fazer contas, a espreitar para os céus e para os caldeirões, que coisa! Então não tinha direito a descansar?
Parou e foi abrir uma janela. O sol - se bem que fosse um sol inglês estava cheio de força naquele dia - entrou por ali dentro, todo entusiasmado, porque era muito raro permitirem-lhe fazer uma visita àquele laboratório. Com a pressa, tropeçou contra um prisma de vidro e desfez-se nas suas sete cores. Surgiu um arco-íris na parede.
O sábio percebeu tudo o que se passara ficou ainda mais aborrecido:
- Pronto! Agora estraguei o mistério que havia no Arco-Íris do céu! Não passa de um espectro da luz solar que se refracta nas gotinhas de água. Acabaram-se as histórias sobre as panelas de ouro escondidas no lugar em que ele toca na terra. Ninguém mais verá nele a túnica de Íris, mensageira dos deuses, nem o sinal da paz entre Jeová e os homens. Mas que grande chatice!
Para desanuviar, foi dar um passeiozinho. Mas, como estava pouco habituado a andar, depressa se cansou. Sentou-se à sombra de uma macieira. E vai, caiu-lhe um fruto em cima da cabeça. Estava a saboreá-lo com delícia quando gritou de novo:
- Que chatice!
Descobrira, ali mesmo, as leis da gravidade.
(de A Luz de Newton, Relógio d'Água, 1988)
JOHN KEATS
(...)Do not all charms fly
At the mere touch of cold philosophy?
There was an awful rainbow once in heaven:
We know her woof, her texture; she is given
In the dull catalogue of common things.
Philosophy will clip an Angel's wings,
Conquer all mysteries by rule and line,
Empty the haunted air, and gnomed mine -
Unweave a rainbow, as it erewhile made
The tender-person'd Lamia melt into a shade
(from Lamia - part II, 1820)
Era uma vez um homem que nascera muito sábio. Ora, às vezes, tal facto aborrecia-o muito. Sempre com o nariz enfiado em livros velhos, sempre a escrevinhar relatórios para enviar aos outros sábios que moravam longe - naquele tempo não havia telefone -, sempre a pensar e a repensar, a fazer contas, a espreitar para os céus e para os caldeirões, que coisa! Então não tinha direito a descansar?
Parou e foi abrir uma janela. O sol - se bem que fosse um sol inglês estava cheio de força naquele dia - entrou por ali dentro, todo entusiasmado, porque era muito raro permitirem-lhe fazer uma visita àquele laboratório. Com a pressa, tropeçou contra um prisma de vidro e desfez-se nas suas sete cores. Surgiu um arco-íris na parede.
O sábio percebeu tudo o que se passara ficou ainda mais aborrecido:
- Pronto! Agora estraguei o mistério que havia no Arco-Íris do céu! Não passa de um espectro da luz solar que se refracta nas gotinhas de água. Acabaram-se as histórias sobre as panelas de ouro escondidas no lugar em que ele toca na terra. Ninguém mais verá nele a túnica de Íris, mensageira dos deuses, nem o sinal da paz entre Jeová e os homens. Mas que grande chatice!
Para desanuviar, foi dar um passeiozinho. Mas, como estava pouco habituado a andar, depressa se cansou. Sentou-se à sombra de uma macieira. E vai, caiu-lhe um fruto em cima da cabeça. Estava a saboreá-lo com delícia quando gritou de novo:
- Que chatice!
Descobrira, ali mesmo, as leis da gravidade.
(de A Luz de Newton, Relógio d'Água, 1988)
JOHN KEATS
(...)Do not all charms fly
At the mere touch of cold philosophy?
There was an awful rainbow once in heaven:
We know her woof, her texture; she is given
In the dull catalogue of common things.
Philosophy will clip an Angel's wings,
Conquer all mysteries by rule and line,
Empty the haunted air, and gnomed mine -
Unweave a rainbow, as it erewhile made
The tender-person'd Lamia melt into a shade
(from Lamia - part II, 1820)
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