4.2.05

[isto, sim, é uma boa metáfora! - para uma história entusiasmante e cheia de actualidade, passada em tempo de carnaval]

HEINRICH BOLL

Se este relato - uma vez que se fala aqui tanto de fontes - for sentido, aqui e ali, como «fluido», pedimos perdão ao leitor: era inevitável. Perante as «fontes» e a «fluidez» não se pode falar de composição, mas dever-se-á antes introduzir o conceito de reunião, de condução, conceito elucidativo para qualquer pessoa que, em criança (ou até em adulto), tenha brincado em, junto de ou com charcos, drenando-os, ligando-os por meio de canais, esgotando-os, conduzindo-os ou mudando-lhes a orientação, até que todo o potencial de água existente no charco seja reunido num canal comum, que será orientado para um nível mais baixo ou talvez ordenada ou ordeiramente conduzida para uma sargeta ou canal da responsabilidade das autoridades locais. O único objectivo aqui é efectuar uma espécie de drenagem ou secagem. Declaradamente um processo de ordem. Por conseguinte, se esta narrativa vier, aqui e ali, a atingir o estado fluido em que desempenham algum papel as diferenças e as compensações de nível, solicitamos a indulgência do leitor, pois, ao cabo e ao resto, também há interrupções, diques, assoreamentos, conduções falhadas e fontes que «nunca se encontram», para não falarmos de correntes subterrâneas, etc.

(excerto do início de A Honra Perdida de Katharina Blum, trad. de Maria Helena Rodrigues de Carvalho, Europa-América, 1981)

Sem comentários: