[outros melros XXIV]
RUY CINATTI
Uma estória
Para Maluda,
Leonor Correia de Sá,
Simão Barreto, timorense e meu irmão de sangue,
Marta Avillez
e Fausto
Tenho minhas mãos vazias
e só Deus mas pode encher
de flores selvagens, estrelas
e de um bafo de mulher.
Foram tempos de folia
abaixo do meu querer.
Tão disperso, nele havia
imagens de estarrecer.
Eram cavalos alados
de cascos de sal e espuma
e um dedo desenhando
fugas de incerta fortuna.
Era o amor de três laranjas
e uma corda ao pescoço.
O sorriso de Maria
fulgurante nos meus cílios.
Eram, repito, fantasmas
- minha estranha condição -
Mas uma estrela apontava
Rumos ao meu coração.
O que o futuro me tece
não o sei, mas adivinho
a noite que me amanhece
sem que me encontre sozinho.
- Um melro surpreendido
voando montanha acima.
A semente, menos viva,
rompendo floridas brácteas.
9/4/83
(in Colóquio / Letras n.º 75 ? Setembro de 1983)
POEMS FROM THE PORTUGUESE
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