PAULO TEIXEIRA
DECLÍNIO DO TURISMO
Estas praias vazias enfrentam confundidas
o deus ocioso das águas e o outono: o mar
implicado com a nossa sede e as nuvens
que, ausentes, nos oferecem ainda um tardio verão.
Toda a fauna partiu: os senhores devolutos
do mundo deixaram-nos o vento que nos afaga
hoje o rosto e as areias desertas.
Esses oportunos visitantes do estio, poetas e aves
que as suas odes ineficazes escreviam às portas
do entardecer, tornaram a casa para consumirem
a substância do tempo sob os rigores e o Inverno
de outras paisagens, louvando com devoções outonais
a sua escrita, o tempo, a imagem insegura da decadência.
Cada coisa declina no lugar da sua origem.
Conhecemos frente ao Mediterrâneo a perplexidade
de um mundo que alcança a sua última disposição,
sem nela poder acreditar. Terra sem ombros e sem timão
que se afunda dia a dia no vale excessivo de estrelas
que nos esconde de nós o Lúcifer celeste.
(de Conhecimento do Apocalipse, & etc, 1988)
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