AMADEU BAPTISTA
Boca do Inferno
Não lhes há-de bastar o baraço
da crítica nas paginas dos jornais
e a folha adventícia de um talento tradutor
que galvaniza as capelas e enche os olhos de poeira.
Também de torcicolos maneiristas e a raivinhas pequenas
não há-de encher-se o saco meio roto
onde tudo na manga é apenas um coelho
bastante epigonal e o mais das vezes roto.
Sequer o grito histérico e liofilizado
à mesa congregadora da afável leitaria
urdirá as malhas de preclara ciência
de em versos acertar a existência.
É gente mercenária que está disposta a tudo
pela manobra sem risco da pós-modernidade
onde depositaram os ossos prestamistas
porque não têm alma.
De nada há-de valer-lhes a rede com que contam.
O oportunismo mentecapto é o sem abrigo
com que o estímulo da rendição já os encontra
nas ruas rarefeitas da cidade
e os outros arredores não menos putas.
(in Boca do Inferno, Revista de Cultura e Pensamento, n.º 6, Abril de 2001)
POEMS FROM THE PORTUGUESE
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