LUIZA NETO JORGE
I
O poeta é um animal longo
desde a infância
II
Começaria por ser
um movimento lento sob a treva
III
Povoadas estão as salas
por crias não humanas
roedoras criaturas
causticando
IV
Vinde animais míticos
ou os místicos com seu santo atento
os que escoiceiam no pino do outono
hermafroditas
raptores de mulheres
os procriadores de crianças
os heráldicos
tampas de caixão
os homens por equívoco
os voadores voláteis
súcubos
satanazes
vinde selvagens animais
dentro dos ossos
vorazes
V
Não aceito as classes zoológicas
nada que lhes facilite
a tão terrestre permanência
tão aérea tão aquática
tão misteriosa tão cósmica
circulação
a tão cheia de facilidades naturais
de naturais dons da natureza
dos prados dos rochedos das águas doces
das almofadas
Entre deitar-me e levantar-me
sento-me ajoelho-me acrobato
aprendo uma infinidade de gestos que
me conduzem a um sem número de situações
mais densas
e umas impiedades do corpo e quantas
duras dores de dentes
transportadas ao espírito que me eliminam
do outro reino animal
Um animal (qualquer)
se alça a pata espessa sobre o mundo
atormenta
(da sequência Outra Genealogia, in O Seu a Seu Tempo, 1966)
A «DANA» de que se fala
Há 1 hora
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