20.9.08

EMANUEL JORGE BOTELHO

BILHETE PARA CESARE PAVESE, QUE NÃO CHEGOU A TEMPO


o ofício, eu sei, que não alisa
a face partida
o linho do beijo

a gente anda cá com os ombros a querer
lavar o peso casto
das pedras de cada sílaba

o que há de luz
na primeira vogal do lume
a consoante apaga

deixa-me ficar entre a lua e as fogueiras
que eu dou três toques no teu vidro,
antes que o galo cante

(de A Giz de Alfaiate, Black Sun editores, 2000)

1 comentário:

Marisa disse...

Belíssimo poema.
Um grande beijo com amizade.