(…)
Então, percebi. Só um homem de tal força lhe dera a coragem para fugir àquele grilhão em que esteve, enrolada em bons tratos e alto luxo.
‘Foram as conversas com ele que me tiraram do Areeiro. Sem me pedir para lho pagar. Não acreditava em pagas, como não acreditava em promessas, nem no que dizem os jornais.’
‘Acreditava só nos livros?’
‘Uma vez perguntei-lho. E foi pronto na resposta. Que gostava de romances porque neles havia que descobrir a verdade por baixo dum maralhal de invenções que o escritor maquinou. Que, por isso mesmo, também há que desconfiar dos gajos, ver por que lado é que tocam a guitarra.’
‘A guitarra?’
‘Sim. O modo de pensar deles, que os escritores também são artistas.’
(excerto de Armandina e Luciano, o Traficante de Canários, editorial Caminho, 1988 – O Campo da Palavra)
Sem comentários:
Enviar um comentário