[estou onde está o homem - a propósito deste post do Miguel]
LÊDO IVO
A CORUJA
Minha noite é o dia
que enxota os sóis intrusos.
Qualquer vento enferruja
os portões e os navios
e muda em garatuja
as inscrições latinas
acima das cornijas.
Minha noite é a luz
sem subterfúgios
que atravessa o fundo
das agulhas mais finas
ou a fagulha dormida
em seu leito de hulha.
Só junto aos semáforos
desta capitania
sou a sentinela
das coisas encobertas
velhas botijas de ouro
gárgulas de cimalha
tocaia ou valhacouto.
E na alvura da noite
branca de mandioca
e esplêndida de coitos
estou onde está o homem:
na malha que o cinge
no abraço que o enlaça
na traça que o rói
no passo do sonâmbulo
na prega da mortalha.
(de Calabar, editora Record, 1985)
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