2.12.08

MARIA ÂNGELA ALVIM

ESPERA

Espera. Palavra espera
não escrita, não contada
às coisas abstraídas
da tortura de entender,
e espera sendo, contudo,
espalhada, diluída
como é a primavera
na superfície de tudo.
Espera não sei de quê,
- já que não tem artifício
não pode ser traduzida, -
espera não sei de onde vem
ou se vai a alguma parte.
(Se a folha tenra é memória,
guardando a chuva caída,
de um gosto talvez das raízes,
sabe se é fim ou retorno?)
Espera não sei de onde vem,
mas nessa espera floresço,
sou planta e não me disperso
somando à só substância
um tempo de justo acréscimo
que é de essência e epiderme.

- E, presa desta forma libertária
esqueço o que fui em vida
de tantas mortes sofrida...

(de Superfície / toda poesia, Assírio & Alvim, 2002 – documenta poetica)

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