27.11.08

RUI CAEIRO

Na minha terra travei conhecimento com as palavras. Primeiro, aquelas que os meus pais me ensinavam. Depois as outras, que estavam em volta. Depois as que eu trazia da rua, sempre mais apetecíveis e que brilhavam como uma moeda nova. Destas últimas, as mais interessantes eram sem dúvida as que tinham o cunho de proibidas.
A meu ver, todas elas, sem excepção, tinham direito à vida. Todas, mesmo as proibidas – principalmente as proibidas.
Todas eram, por igual, fruto da situação que as vira nascer. Todas eram imprescindíveis.

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Na minha terra tomei gosto pelas palavras. As que ouvia, as que lia, as que dizia, as que não podia dizer. Tenho que reconhecer que algumas davam mesmo um prazer muito especial. Como um rebuçado que lentamente se dilui na boca, em contacto com a língua.

(de Pranto por Vila Viçosa, edição do Autor, 2007 – adquirido na livraria Poesia Incompleta, o local mais indicado para encontrar obras deste Autor)

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