1.6.09

ARMINDO TREVISAN

HOMO VIATOR


Sou homem… Que bom é ser
qualquer coisa, assim, ao léu,
uma pluma de vender,
um pensamento, um chapéu,
enfim ser tão somente isto,
ser apenas pelo meio,
sem um nome, sem um misto
de ancoragem ou de enleio,
ser nada (não é possível)
ser tudo (mas é demais)
ser então o indefinível
nem tão pouco, nem demais.

Ser no amor o amor calado
meio nu, meio essencial,
porque tudo o que é colmado
bem parece horizontal.
Só o que não se aprimora
até ao pormenor existe:
o dia é adulto na aurora,
a noite mais bela, triste.

Por isso, desejo ser
sendo apenas o que sou:
um pouco de parecer
e muito que não chegou.

(in dois poetas novos do Brasil, Moraes editores, 1972 – Círculo de Poesia)

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