VIII
Os relâmpagos iluminam um busto no telhado:
monumento ao Poeta Desconhecido, disfarçado de pássaro
com bico de homem a beber a chuva de vinho novo
Nos socalcos da cidade cresce a videira brava,
as gavinhas atam os meus dedos aos prédios
e há gaviões predadores de gatos pretos
em voo muito baixo junto aos tornozelos
Turbas de trovões atravessam o tecto
Vê-se um livro aberto diante dum espelho
a falar sozinho, a virar as páginas com cheiro a sândalo
e um cigarro, esquecido no cinzeiro, ilumina o poema
que gasta montes de dinheiro a subornar o sono
Porto, 22.IX.90
(de Noite do meu Inverno, ΙΧΘΥΣ, 2001)
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