1.2.10

JOÃO RUI DE SOUSA

VIDA E MORTE DAS PALAVRAS


São vivas quando
o coração do vento amadurece
e a voz vem de repente
e não se esquece
de estremecer as trevas
ou de roer as malhas
da rotina
ou de dar lenha e fogo
(matéria inesperada
e sibilina)
a um barco que arrefece.

São mortas quando
a morte nelas cresce
- com os seus cabelos ralos,
suas ramagens crespas, desgastadas,
seus ossos cabisbaixos
rolados sobre o nada.
São mortas se não queimam
a limalha sobrante - esse pó
de cães exaustos, de dias
fatigantes -
e em podridão se instalam.

(de Quarteto para as próximas chuvas, publicações Dom Quixote, 2008)

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