21.3.10

LEVI CONDINHO


ALPHAVILLE


Perseguimos ainda um tempo de vida iluminada
Mas não é disso que nos falam
Eles falam de outras coisas
Coisas muito concretas aparentemente inofensivas

Não há memória nos seus olhos
Não há olhos nos seus olhos
A raiva e as lágrimas os sorrisos do fim da noite
(Quando é de braços entrelaçados a noite)
Nada disso lhes diz respeito
Coração? Dúvida? — coisas de menor importância
A riscar da vida

Nos nossos lábios ainda e sempre húmidos
Nas nossas pálpebras pássaros inquietos
Perdura o rio da infância e é de amor que nós falamos
Rebenta o nosso peito ao querer dizer o indizível
Perante isto eles riem metalicamente
Pensando o escárnio
Pensando a morte sobre nós

Pois bem: resistiremos
E a Paixão será reposta no mundo
Liberta finalmente de significados dúbios


(de Para que alguns me possam amar, edições Távola Redonda, 1977 - série «Taboada da Marginal-Idade»)

Sem comentários: