ANTÓNIO FRANCO ALEXANDRE
syrinx, ficção pastoral
XI
Está tudo errado, tudo, ou quase: na verdade, apenas
um salto quântico de computador,
um fio trocado na electrónica mente
que manda nos horóscopos, e já se perde
a metamorfose de outro sapo;
não encomendei! não pedi! não quero
no lugar reservado à favorita imagem
este caso-problema que se droga e vende
e tem de todo errada a identidade,
a idade, o sexo, a cara indiferente.
Quando abre a boca avisto com terror
a língua, inteira, rósea, e gengivas com dentes
capazes de ladrar, de me morder,
de em público me dizer inexistente,
de me abrir pelo meio e me tirar
tudo o que tenho, como um ladrão demente.
XII
Fico interdito, não sei
de que lado me hei-de pôr,
que sabonete se usa
em que mão, se é bem preciso
lavar sempre as almofadas,
se se permitem as rimas,
onde fica o alçapão.
Já faltei à minha jura,
fumei cinza, comi vento,
abri fendas na janela,
pendurei-me no jardim;
só subindo aos ramos altos
é que enfim adormeci;
sonhei que estava dormindo
numa folha de papel
amarela, de cetim.
(de Quatro Caprichos, Assírio & Alvim, 1999)
Um pouco mais de azul (20)
Há 2 horas
1 comentário:
Aprecio bastante este tipo de poesia, cheia de duvidas e meio "lunática". Recorda-me Fernando Pessoa/Álvaro de Campos
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