23.7.10

JÚLIO POLIDORO


eu sei, mas por saber, sei que sou parco,
tudo que não tenho é o que perco:
a morte se aproxima e fecha o cerco,
descreve uma espiral, desenha um arco.

sou para o oceano menos que um barco,
me sinto sobre a terra qual esterco;
fecundo esse fogo de que me acerco
com o ar que se sufoca sob o charco.

eu sei e por saber sei que sou pouco,
perdido, navegando como louco,
procuro por um cais que não conheço.

eu sei, pois por saber sei que pressinto:
no gesto de perder, que não consinto,
me enleia alguma teia que não teço.


(in Oiro de Minas a nova poesia das Gerais, selecção de Prisca Agustoni, Ardósia associação cultural, 2007)

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