21.7.10

REINA MARÍA RODRÍGUES


AS ILHAS


veja e não descuide delas
as ilhas são mundos aparentes
cortadas no mar
transcorrem em sua solidão de terras sem raiz
no silêncio da água uma mancha
de haver ancorado só aquela vez
e colocar os despojos da tempestade e as rajadas
sobre as ondas
aqui os cemitérios são lindos e pequenos
e estão além das cerimónias
me banhei para sentar-me na grama
é a zona de sombra
onde acontecem os espelhismos
e volto a sorrir
não sei se estás aqui ou é o perigo
começo a ser livre entre esses limites que se
intercambiam:
certamente amanhecerá.

As ilhas são mundos aparentes
coberturas do cansaço nos iniciadores da
calma
sei que a realidade só esteve em mim aquela vez
um intervalo entre dois tempos
cortadas no mar
sou lançada até um lugar mais tênue
as meninas que serão jovens uma vez mais
contra a sabedoria e a rigidez dos que
envelheceram
sem os movimentos e as contorsões do mar
as ilhas são mundos aparentes manchas de sal
outra mulher lançada para cima de mim que não conheço
só a vida menor
a gratidão sem pressa das ilhas em mim.


(tradução de Claudio Daniel, in Jardim de camaleões: a poesia neobarroca na América Latina, organização, seleção e notas de Claudio Daniel, editora Iluminuras, 2004)

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