VASCO GATO
IMPREVISTO NO MAPA
Que estranho
estar a visitar-te onde não estás
recuar de repente para que passes
e tudo tão imóvel
tudo tão estreito
tão repreensível
e porém uma figura se desembaraça
da treva
e é o magneto
o grito avermelhado que fica
a rodar no anfiteatro
em que eu sou o louco
e tu a vírgula que não me deixa
terminar
(abriu-se a gaveta
as sombras têm o mesmo tamanho
os nervos andam à solta)
agora que te vejo
até onde não te vejo
e essa é a extensão dos meus sentidos
agora que me esquivo
do golpe silencioso dos teus braços
descubro que me coube
a parte mais terrível da aurora
aquele minuto que se comprime
e sangra pelos cabelos
aquele erguer-se a rua
pela rosácea
da expectativa
um espectáculo existiu
e cada um sabia o seu papel
funâmbulos ou piruetas ao acaso
não importa
eu tinha os teus lábios
tu encontravas-me como um velho relógio
de parede
ao entrar no mar
os grandes olhos do nosso entendimento
verdes olhos de vagabundo ao sol
para unicamente
esta noite
para unicamente esta noite
para unicamente esta noite te dizer
que eu sou o homem no escuro
eu sou o sol a aquecer-se nos teus bolsos
eu trago a minha canção aberta
à radiação dos últimos vestígios
do corpo
sessenta mil velas
para unicamente esta noite
para unicamente esta noite te dizer
os holofotes acenderam-se
os holofotes acenderam-se
as minhas mãos viram as tuas mãos
(de Prisão e paixão de Egon Schiele, &etc, 2005)
O grau zero da governação
Há 54 minutos
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