LUIS PIGNATELLI
já foram neve sinos as portas desta casa em sombra
já foram neve sinos as portas desta casa em sombra
que a pútrida folhagem do outono abandonou
agora movem-se no sono dágua dos meus olhos
que a luz da tarde tão cegadora evaporou
pequenos bichos larvas começam a lavrá-las
finas poeiras já se amontoam na pedra das soleiras
fulvas rosáceas tessituras delicadas rendas
com que se vestem as aves pólen das madeiras
as portas que foram desta casa tão olorosa outrora
na purga do salitre é que se expurgam cinzas
mais as gramíneas da noite constelações azedas
só restam lousas o oiro velho que há nas cornijas
mas na memória hão-de restar ventos alíseos facas
com que as lavercas as suas patas vão escarvar
lameiros negros hei-de encontrar as suas tocas
onde meus olhos os destas portas se irão deitar
mas não tão cedo acres que ainda estão mortas
suas resinas alguém virá com lumes dágatas
dentro de casa erguer as portas varandas altas
que já rolam rolas nos seus casulos pratas
de águas soltas pérolas vastas encherei as arcas
neve sonora a destas portas sombrias naves
hão-de queimá-las as tuas asas? alguém virá com suas brasas?
meus olhos folhas hão-de levá-las na seda magra destas aves
(de Polaroides, in Obra Poética, &etc, 1999)
O sol em Maio, Isabel Milhanas Machado, Urutau
Há 6 minutos
1 comentário:
Feliz acaso ter encontrado este espaço tão especial. Passarei a lê-lo até se tornar um vício.
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