13.11.10

CARLOS EDMUNDO DE ORY


EXAME DE POESIA


Quando só na escuridão da noite urino
penso quieta a dúvida numa vida antiga
Porquê de noite tenho tanto medo na alma?
O céu fita-nos a andar e estamos na vida.

Vem loucura às minhas pupilas vem loucura
Febre de exílio nas margens de meus olhos
Põe o manto escarlate na minha alma
despedaça o meu tímpano o meu tórax
corta-me a jugular.

Espero-te com os punhos com os dentes
com os olhos cerrados:
loucura peristilo divino
ângulo facial de actor de morte
anfisbena demónio sem sentido
É teu sentido uma delícia extrema.

Nesta noite de ouro neste inverno
Nesta noite dura e fria ponho
minhas mãos de diamante e minhas pernas
sobre a almofada e sobre a colcha
chamo chamo
Não ao sonho nem à eterna escuridão
mas à porta em que morre minha mãe

Quero dobrar a espinha
tristíssima e divina.


(tradução de José Bento, in Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea, Assírio & Alvim, 1985 - documenta poetica)

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