6.4.11

JOSÉ LUIZ TAVARES


11.


Há um tesouro que não enferruja
nas costas da tua mão; embora
a pele entregue às sevícias do curtume.

Deste lado, dimanações do que poderiam
ter sido recônditas juras num domingo
de sinos e renúncia. Revigoram-te
como o riso indubitável dos jovens laureados
cujos crânios ungiste com a erva nova
de setembro, por sob o olhar de um deus menor.

Mas porque já não posso louvar essas velhas
divindades; porque o fuzilante vento apagou
os mínimos sinais dispostos sobre a terra
e o bordão dos prodígios já nenhuma água
traz ao cimo das escarpas;

porque silencioso necrotério a sala onde
arquejante me ensinaste as primeiras letras
(tu que com o sofrimento mantinhas um comércio
astucioso) e ignaros vinham para uma carta

ou um conselho; mas sobretudo porque o que fazia
humano este lugar – velhos de conversa lenta
reaprendendo de novo a leveza da infância;
quatro ou cinco árvores explodindo no ar seco do verão –
soterrou-o um tempo malfazejo;

ou porque talvez tenha razão o fernandes Jorge
e regressar não seja verbo que se conjugue,
desde essa orla onde tudo é demasiadamente
estrangeiro, esquissos da impossível pátria
lavro onde de novo me erguesses
para a mortal vocação de ser homem.


(de Paraíso apagado por um trovão, 3ª edição: US edições, 2010 – 1ª edição de 2003)

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