5.8.11

[AUTOR DESCONHECIDO]

«Musas entregando o Poeta ao Tempo e à Fama»


LUÍS DE CAMÕES


Mas a Fama, trombeta de obras tais,
Lhe deu no mundo nomes tão estranhos
De Deuses, Semideuses imortais,
Indígetes, Heróicos e de Magnos.
Por isso, ó vós que as famas estimais,
Se quiserdes no mundo ser tamanhos,
Despertei já do sono do ócio ignavo,
Que a ânimo, de livre, faz escravo;

E ponde na cobiça um freio duro,
E na ambição também, que indignamente
Tomais mil vezes, e no torpe e escuro
Vício da tirania, infame e urgente;
Porque essas honras vãs, esse ouro puro
Verdadeiro valor não dão à gente;
Melhor é merecê-los sem os ter,
Que possuí-los sem os merecer.


(do Os Lusíadas, Canto IX, 1572 - fixação do texto de Hernâni Cidade)

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