(Alcobaça, 25 de Setembro de 2011) |
NUNO DEMPSTER
Se esse amor mitológico os tornasse
mais felizes, se acaso lhes dissesse
caminhem na cidade e hão-de encontrar
Inês ou Pedro vivos no café,
o lado vulgar do amor não se poria.
Mas isso não sucede àqueles que
procuram no mosteiro de Alcobaça
a sua salvação, com a esperança
redutível a um lar e, como Inês,
aos filhos por que o amor se vai movendo.
Hão-de dizer se lerem estes versos:
«Mas que desencantados pensamentos
o fazem escrever coisas vulgares.
Pedro e Inês são o exemplo de que só
um grande amor exige amor maior,
e assim a perfeição da vida humana,
não o quotidiano que nos rouba
a existência de modo tão anónimo.»
«Pois», respondo. «Percorram a cidade
e entrem em um dos prédios suburbanos
à hora do jantar. O cheiro a fritos
é coisa que não liga com amor
de príncipes. Se tanto, Pedro e Inês
são um casal de amantes sem história
que chegou de autocarro e ninguém viu.»
(de Pedro e Inês: Dolce Stil Nuovo, Edições Sem em Pé, 2011)
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