CESAR VALLEJO
LXXVII
Graniza tanto, como para que eu
recorde
e aumente as pérolas
que recolhi mesmo do focinho
de cada tempestade.
Esta chuva não se vai secar.
A não ser que eu pudesse
cair agora para ela, ou que me
enterrassem
molhado na água
que jorrasse de todos os fogos.
Até onde me apanhará esta chuva?
Receio ficar com algum flanco
seco;
temo que ela se afaste, sem me
ter provado
nas secas de incríveis cordas
vocais,
por onde,
para dar harmonia,
há sempre que subir, nunca
descer!
Porventura não subimos para
baixo?
Mesmo na praia sem mar, oh chuva,
canta!
(in Antologia, selecção, tradução e
prólogo de José Bento, Limiar, 1981 – Os Olhos e a Memória / original de Trilce,
1922)
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