26.10.11

CESAR VALLEJO


LXXVII

Graniza tanto, como para que eu recorde
e aumente as pérolas
que recolhi mesmo do focinho
de cada tempestade.

Esta chuva não se vai secar.
A não ser que eu pudesse
cair agora para ela, ou que me enterrassem
molhado na água
que jorrasse de todos os fogos.

Até onde me apanhará esta chuva?
Receio ficar com algum flanco seco;
temo que ela se afaste, sem me ter provado
nas secas de incríveis cordas vocais,
por onde,
para dar harmonia,
há sempre que subir, nunca descer!
Porventura não subimos para baixo?

Mesmo na praia sem mar, oh chuva, canta!


(in Antologia, selecção, tradução e prólogo de José Bento, Limiar, 1981 – Os Olhos e a Memória / original de Trilce, 1922)

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