RABINADRANATH TAGORE
O CAMINHANTE
Não me
perguntes
O que é
salvação
Ou onde a
encontrar,
Não sou
investigador, mas apenas poeta...
Vivo agarrado a
esta terra.
Perante mim
corre o rio da vida...
Levando na sua
corrente
Luz e sombra,
bem e mal,
Ganhos e
perdas, lágrimas e risos,
Coisas que se
entrelaçam
E se esquecem!
Sobre as suas
águas
A manhã chega
em profundos matizes,
O ocaso estende
o seu véu carmesim,
E os raios
lunares caem como o suave tacto de uma mãe.
Na noite escura
As estrelas
elevam as suas orações;
Sobre as suas
ondas
A madhuri oferece
os seus dons,
E as aves
soltam os seus cantos.
Quando ao ritmo
das ondas
Silencioso
dança o meu coração
Então nesse
ritmo
Estão os meus
limites e a minha liberdade.
Não desejo
conservar nada
Nem apegar-me a
nada.
Desatando os
nós da união e da separação,
Quero flutuar
com o Todo
Içando as
minhas velas ao vento que paira.
Oh, grande
Caminhante!
Para ti
abrem-se os dez caminhos
Nos confins da
terra,
E não tens
templo, nem céu,
Nem limite
final.
A cada passo
tocas o chão sagrado.
Caminhando a
teu lado, oh, Incansável!
Encontro a
salvação
No tesouro do
caminho.
Em luz e
sombra,
Nas páginas
sempre novas da criação,
Em cada novo
instante de dissolução
Ouve-se o ritmo
das tuas danças e canções.
(in Poesia, tradução
de José Agostinho Baptista, Assírio & Alvim, 2004 – documenta poetica)
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