PHILIP LARKIN
Inverno
No campo dois cavalos,
Dois cisnes no rio,
E o vento fustiga
Um baldio onde os cardos
Se juntam como gente;
E de novo os meus pensamentos
São crianças
De rostos inquietos,
Acordam em túmulos
Ocultos e soerguem-se
Sob céus velozes.
O rasto diagonal
Dum cisne na água
É o frio do inverno;
E os cavalos, como paixões
Há muito derrotadas,
Descaem as cabeças
E ai, como me invadem
A mente amortalhada
E resgatam da memória
Os rostos aprisionados —
Aluviões do passado.
Então a charneca inteira
Silva em golpes de vento
E a gente transida
Junta-se como cardos
Num lugar estéril;
E mesmo assim os milagres
Exumam de cada rosto
Fortes sementes sedosas
Que lançam para o estático
Sol de ouro do inverno
Um orgulho sem fim nem sombra.
(in Uma Antologia, tradução de Maria Teresa Caeiro, Fora do
Texto, 1989 – Poesia Nosso Tempo / original de The North Ship, 1945)
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