PAULO DA COSTA DOMINGOS
Inúteis. O desenho: uns tomam-no
de suas hortas
nas traseiras; outros, do
encavalitado de ares
condicionados; além atiram comida
das janelas.
Gatos esperam que nunca o deus do
trabalho e
das férias lhes feche a torneira
desse maná, inúteis.
Como, aliás, devem ser os versos,
espreguiçados
ao longo de um muro, miticamente
branco por
baixo do musgo. Que por detrás de
um veículo
topo de gama acabamos sempre por
encontrar
nabiças, um seu familiar que não
limpou ainda
a lama das botas, e traz da
encosta uma gritaria
impossível de miúdos maltrapilhos
e farinha no
sabugo. Não fora a destreza dos
gatos, e outro galo
cantaria. E eu, perplexo na
barafunda de opiniões
e de soslaios que me fixam,
preparo meu salto
antes que, piegas, me abandone a
poesia, versos
inúteis.
(de Nas alturas, frenesi, 2006)
1 comentário:
Ao acaso vim.
Muito bom o sentido de suas letras.
Gostei.
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