13.3.12


PAULO DA COSTA DOMINGOS


Inúteis. O desenho: uns tomam-no de suas hortas
nas traseiras; outros, do encavalitado de ares
condicionados; além atiram comida das janelas.
Gatos esperam que nunca o deus do trabalho e
das férias lhes feche a torneira desse maná, inúteis.
Como, aliás, devem ser os versos, espreguiçados
ao longo de um muro, miticamente branco por
baixo do musgo. Que por detrás de um veículo
topo de gama acabamos sempre por encontrar
nabiças, um seu familiar que não limpou ainda
a lama das botas, e traz da encosta uma gritaria
impossível de miúdos maltrapilhos e farinha no
sabugo. Não fora a destreza dos gatos, e outro galo
cantaria. E eu, perplexo na barafunda de opiniões
e de soslaios que me fixam, preparo meu salto
antes que, piegas, me abandone a poesia, versos
inúteis.


(de Nas alturas, frenesi, 2006)

1 comentário:

Olhar de Isa disse...

Ao acaso vim.
Muito bom o sentido de suas letras.
Gostei.