EGITO GONÇALVES
OS VEGETANTES
Continuam aqui
roendo as unhas!
Substituem as unhas por poemas
(ou cafés, futebol, anedotário)
e estilhaçam espelhos que na luz
ao seu devolvem a cruel imagem.
Vidrado limo o rosto
de rugas sem memória
assistam à vida como um filme:
disparar sobre a tela é proibido
e além do miais inútil.
Curvam ao solo os ombros
escoriados; curvam-nos para
duradoiras urtigas, seixos
sem horizonte, epitáfios
de lama, dezembros, poeira fria.
Se chovem as esperanças não acorrem
a apanhá-las na boca ao ar aberto.
Tijolo articulado a língua balbucia
«É a vida!». Sementes violadas
não germinam.
Em vão os bombardeiam os oráculos
com agulhas de sangue. Nada tentam
para dar vida à fala que utilizam,
ao país do cansaço que entre dentes
ressaca.
E fazem do amor essa triste humidade,
um delíquio formal logo amortalhado.
São dóceis, cibernéticos,
dia a dia premiados
de alguns gramas a mais
no chumbo do pescoço.
(de Poemas Políticos 1952-1979, Moraes Editora, 1980)
OS VEGETANTES
Continuam aqui
roendo as unhas!
Substituem as unhas por poemas
(ou cafés, futebol, anedotário)
e estilhaçam espelhos que na luz
ao seu devolvem a cruel imagem.
Vidrado limo o rosto
de rugas sem memória
assistam à vida como um filme:
disparar sobre a tela é proibido
e além do miais inútil.
Curvam ao solo os ombros
escoriados; curvam-nos para
duradoiras urtigas, seixos
sem horizonte, epitáfios
de lama, dezembros, poeira fria.
Se chovem as esperanças não acorrem
a apanhá-las na boca ao ar aberto.
Tijolo articulado a língua balbucia
«É a vida!». Sementes violadas
não germinam.
Em vão os bombardeiam os oráculos
com agulhas de sangue. Nada tentam
para dar vida à fala que utilizam,
ao país do cansaço que entre dentes
ressaca.
E fazem do amor essa triste humidade,
um delíquio formal logo amortalhado.
São dóceis, cibernéticos,
dia a dia premiados
de alguns gramas a mais
no chumbo do pescoço.
(de Poemas Políticos 1952-1979, Moraes Editora, 1980)
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