4.2.14

LUÍS CARLOS PATRAQUIM


TRÊS VARIAÇÕES SOBRE O ESCURO ANTERIOR

o olho intrusivo
pouco
o que vês na paisagem
se houvesse

e
dizes a palavra muda

há uma savana anjo
que te redime

ela
pietá
a invisível árvore

e tu
filho de nada
no seu colo

*

Alta noite
depois do escuro anterior
eu vi a máquina

a máquina prótese
epigramática

e meu canto tinha a tensão de um arco
e cada grito era uma seta

*

Coração neuronal sanguínea pulsante fonte
de que mar beber-te a inteligência
que a voz pergunta

um chuço passou
e a cabeça larvar corre adiante
oscilando sob a Lua

As adagas flanqueiam a Carne
orgiásticas
subindo até à transcendência
do Gesto

o que dança
e explode da lava e a isso chamamos Mãe
e rasgamo-la!

Ei-lo! O cavaleiro mongol degolando
a última estrela

Um pescoço de nuvem onde
pasmam as gazelas cúbicas
sossegadas



(«unpublished poems for "Anjos Urbanos" exhibition by José Cabral», in Urban Angels, P4Photography, 2009)

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