LEOPOLDO MARÍA PANERO
TRÊS HISTÓRIAS DA VIDA REAL
I. A CHEGADA DO IMPOSTOR FINGINDO SER LEOPOLDO MARÍA PANERO
Ao amanhecer, quando as mulheres comiam morangos
crus, alguém chamou
da minha porta dizendo chamar-se
Leopoldo María Panero.
No entanto, a sua falta de convicção para desempenhar o papel, os
seus abundantes silêncios, os
seus equívocos ao recordar frases célebres, o seu embaraço
quando o obriguei a recitar Pound e, finalmente, a pouca
graciosidade das suas graças, convenceram-me de que se
tratava de um impostor. De
imediato, fiz vir os soldados: ao
amanhecer do dia seguinte, quando os homens comiam peixe congelado, e na presença de todo o regimento, foram-lhes arrancados os galões, o
fecho de correr, e deitado ao lixo o seu
batom, para ser fuzilado logo de seguida. Assim acabou o homem que fingiu ser Leopoldo María
Panero.
II. O HOMEM QUE ACREDITAVA SER LEOPOLDO MARÍA PANERO
Chovia e chovia sobre a casa de De
Kooning, célebre pelas suas aparições. Ali, o filho mais novo de De Kooning, levantou-se nervoso da cama, vestiu
um roupão e foi para o quarto
do seu pai para lhe dizer que era
Leopoldo María Panero.
Enquanto se demorava a enfatizar o seu desgosto pelo filme Chávarri El Desencanto, não
teve outra alternativa senão chamar um
psiquiatra. Já no manicómio, persistiu no seu delírio,
imaginava cenas de infância, ruas
de Astorga, sinos, a pancada do meu pai.
Depois de um rápido electrochoque, passou a acreditar ser Eduardo Haro, uma
pequena variante da primeira figura. De imediato começou
a coxear e a tossir e então afirmou ser Vicente Aleixandre.
Enquanto isso, na casa do De Kooning,
por entre o ruído de correntes, continuam
a multiplicar-se as aparições.
III. O HOMEM QUE MATOU LEOPOLDO MARÍA PANERO (THE MAN WHO
SHOT LEOPOLDO MARÍA PANERO)
O meu querido amigo Javier
Barquín sempre irá acreditar que foi ele quem matou Leopoldo María Panero. Mas isso
não é verdade. Ninguém nesse tempo tinha
coragem para o fazer. O sujeito tinha
aterrorizado a cidade inteira. Tinha raptado várias mulheres e
ameaçara torturá-las. Por isso nessa tarde tomei
a decisão, fui à espingardaria do Jim e comprei um revólver calibre 45. No
momento em que Leopoldo María
Panero tentava mais
uma vez extorquir Javier Barquín, disparei de longe. Como Javier também
tinha sacado de uma pequena pistola,
supôs ter sido ele a fazer justiça. Toda
a sua vida irá acreditar que foi ele que matou Leopoldo María Panero.
Mas não foi assim. Eu sou o homem
que matou Leopoldo María Panero.
(tradução minha – original in Estaciones, 2 otoño-invierno, 1980-81 / reproduzido in Poesia
Completa 1970-2000, edic. de Túa Blesa, Visor Libros, 2004)
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