[estive dois dias à procura deste soneto que me ocorreu no Caminho]
DANTE ALIGHIERI
(...) Foi quando, tendo-se eles [os peregrinos] afastado da minha vista, me propus fazer um soneto em que me manifestara o que comigo dizia; e a fim que parecesse mais piedoso, me propus de dizer como se a eles tivesse falado; e disse este soneto que começa: Pregrinos pensativos que passais. E disse "peregrinos" segundo a larga significação do vocábulo; que peregrinos se podem de dous modos entender, um largo e um estreito: o largo, quando é peregrino quem fora de sua pátria esteja; no estreito, não se entende peregrino se não quem vai a casa de Santiago ou dela volve. E é de saber que por três modos propriamente se chamam as pessoas que vão em serviço do Altíssimo: chamam-se palmeiros, quando vão a ultramar, de onde muitas vezes trazem a palma; chamam-se peregrinos, quando vão à casa de Galiza, por ter sido a sepultura de Santiago mais longe de sua pátria do que qualquer dos mais apóstolos; chamam-se romeiros, quando a Roma vão que era onde iam estes que eu chamo peregrinos.
Este soneto não dividirei, sendo assaz manifesta sua razão.
Pregrinos pensativos que passais,
talvez cuidando em coisa não presente,
vindes assim de tão remota gente
como à primeira vista aparentais,
que sem chorar agora atravessais
o centro da cidade tão dolente,
como aquelas pessoas cuja mente
ignora a gravidade de horas tais?
Se quedásseis a ouvi-lo, o coração
por certo suspirando bem me diz
que em lágrimas havíeis de ficar.
Ela perdeu a sua Beatriz,
sobre quem as palavras têm condão
de pôr todos os outros a chorar.
(do capítulo XL de Vita Nuova - tradução de Vasco Graça Moura, Bertrand, 1995)
POEMS FROM THE PORTUGUESE
Há 2 horas
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