JORGE DE SENA
CAVERNA
Ao José Blanc de Portugal
Tanta coragem, meu Deus, em perguntar por dúvida,
não vão os meus actos, amanhã pensados,
ser resposta,
vertigem à beira de um poço mais estreito que largo,
de Te querer tão puro e longe
isento do meu mundo.
Este pavor, meu Deus, de Te purificar em excesso,
de me afastar demais
para que não me compreendas ao dizer-Te o Nome...
Eu tiro-Te tudo, tudo, se principio a odiar-me!
Este pavor, meu Deus,
de Te reduzir ao som, à música das quatro letras;
e anda no tremer do ar,
quando o Teu Nome circula
e o ar não treme para as coisas,
fica afastamento
que não a força da Entrada em nós.
Chega o silêncio
passa uma aragem,
as árvores enchem-se de intervalos de nuvens,
- e eu assistindo completo ao ar em movimento!...
Este pavor, meu Deus, de Te confundir com o vento!
De Ti,
só o meu reflexo é irreparável.
19/6/41
(de Perseguição, 1942)
Sobre Guerra e Paz, de Lev Tolstoi
Há 3 horas
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