27.2.04

RUY BELO

ÚLTIMA VONTADE


Quando a sereia se ouvir
no coração desolado como uma cidade
recorda que te procurámos através das árvores
E tu escondias-te por trás dos frutos
e recolhíamos as mãos
cheias apenas de tempo
Sempre brincaste connosco
desde os dias da nossa juventude
Puseste-nos nos olhos
estação sobre estação e a vida dava as mãos
de árvore para árvore à volta da terra
Ia de ramo morto para ramo vivo
como um pássaro mais e nós ríamos
na tua transparência

Fechem-se-te agora os lábios
sobre a palavra que somos
Perdoa se algum dia
errámos com o coração
Não nos deixes morrer longe de jerusalém

(de Aquele Grande Rio Eufrates, 1961/1972)

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