29.1.05

[outros melros XXII]

EMMANUEL HOCQUARD

ELEGIA 7


III

13 de Fevereiro

uma mesa de alfaiate
no Atlântico Norte

o melro cantou
na noite
em que Champollion encontrou a pista

um inverno tão seco
e tão suave
a falta de chuva
fez cair as folhas
da árvore das borboletas
no nevoeiro
e nem sequer nevoeiro

FUMO CINZA UMA ILUSÃO
E NEM SEQUER ILUSÃO

lembras-te da torre flutuante
bóia sibilante
coroada
pelas aves do mar
os dois corvos-marinhos
do cinzeiro de Somerville?


14 de Setembro de 1822

o melro do muro
debica
as bagas da hera

«isto vai isto vai
e apesar de pequenas incertezas
posso garantir-te que
o nosso alfabeto é que está certo»

depois foi o regresso
um domingo de manhã
no autocarro de Fromentine

em Janeiro
tinha havido a carpa

o viveiro
a cama de gelo no supermercado
3 dias a nadar
na minha banheira
o transporte de carro
para acabar
nessa segunda de manhã
numa lagoa em Royaumont

& o mesmo nevoeiro

(de Teoria das Mesas antecedido de Elegia 7, tradução colectiva em Mateus, Quetzal editores, 1991)

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