30.8.05

RUI KNOPFLI

OFÍCIO NOVO


Uma poesia exausta de pássaros
e folhagem
abre os olhos descarnados
para a paisagem de amarelos
lívidos.
No desconforto modorrento
da tarde
pulam insectos pardos
ao voo sonolento.
O olhar cauterizado
perde-se no árido desencanto
da planície morta
estendida inutilmente à fome dos homens.

Uma poesia cansada de aves
de sonho
e do brilho rútilo das imagens,
esgarça e seca e refaz-se
na magoada realidade de um céu
ardendo em ferida.
Do verso se rompe
a arquitectura íntima
e se ausenta a melódica
sonoridade.
Em silêncio, na paisagem tosca
de gente magra e escura e triste,
lentamente,
aprendemos um novo ofício.

(de Reino Submarino, 1962)

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