31.5.06

[no dia do "não-fumador" adquiri os Papéis de Fumar, volume da poesia completa de um grande Autor]

VERGÍLIO ALBERTO VIEIRA

NAU PRETA

6


Porque nada parece querer dizer
O nada que alguma coisa sempre diz,
É que, chegada a hora de morrer,
Muito pouco foi tudo o que se quis.

Muito, não digo, o que havia a fazer,
Disse-o ele, aliás, com ar quase feliz,
E, acrescentou, enfim, pra se saber:
Fumar a vida eis o que, na vida, fiz!

Fumador, fumador por profissão
De tabaco d'enrolar, assim, sem pressa,
Comprado em quiosque de estação,

À mesa do café, antes que esqueça,
Tabaco louro que, por qualquer razão,
Fica em cinza nos dedos, isso qu'interessa!

(de A Arte de Perder, in Papéis de Fumar, editora Campo das Letras, 2006)

1 comentário:

António Ferra disse...

Gostei de ver aqui Vergílio Alberto Vieira. Espero que os "Papéis de Fumar" façam bem a muita gente. Afinal é uma obra de grande fôlego em que o autor mostra o que vale através de um trabalho de grande RIGOR.