25.5.06

[outros melros XXXVII]

JORGE GOMES MIRANDA

OS SOLITÁRIOS

O primeiro que encontrei era rafeiro e amoral.
Cão, de belo corpo, tal o de Ulisses.

Um melro
íamos aos ninhos...
aguazil com o lusco-fusco
e amigo de Stevens.

O tigre de Blake, a cobra de Lawrence,
a pantera de Rilke, o cavalo indomável da banda desenhada
que não vinha ó António Osório
comer à nossa mesa.

O papagaio verde
de Sena cujas últimas palavras são oraculares.

Esse homem
(que já tem em cima da mesa-de-cabeceira O Elogio da Calvície)
fitando-me ao espelho
inquirindo sobre sonhos e desilusões.

(de Este Mundo, Sem Abrigo, Relógio d'Água editores, 2003)

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