13.5.06

RUY CINATTI

A NOSSA SENHORA


Então, vida e tecla do visível
amparo dos mortais, ei-la, senhora
dos espaços siderais
e mãe na terra.

Cruzada pelas espadas
no coração - fruto sensível
que se mastiga com amor, com nojo -
adormece no sonho.

Gera mitos e lendas.
Conhece devaneios e surpresas:
mãos estendidas, joelhos
na pedra rija.

Vómitos de cera
honram-na em lágrimas
humedecendo faces
ou repentes de alegria.

Ei-la, portanto, senhora
nos espaços siderais
e na terra mãe
desamparada.

Seu olhar magoado
fere um intranquilo
raio de luz.

E entro no templo
onde milhares de mãos compadecidas
acendem círios.

Digo: Maria!
Ouço: Meu filho!

(de Corpo - Alma, editorial Presença, 1994 - colecção forma)

3 comentários:

Ruy Ventura disse...

Que coincidência. Ainda hoje publiquei um poema inédito de Cinatti no Estrada. Podes ir lá espreitar.
Abraço
r

ruialme disse...

Caro Ruy, deve haver montes de poemas inéditos deste nosso ilustre homónimo. Quando criei este blog foi a pensar num hábito que ele tinha: fotocopiar os poemas que passava à máquina e ir distribuí-los pela rua.

Ruy Ventura disse...

Pois deve... e realmente é pena que não se possa reunir todos quantos por aí existem. Quanto a mim, vou contactar a equipa responsável pela edição da obra completa para lhes entregar o que está no "estrada"