JOSÉ TERRA
As palavras ferem-se no vento,
retraem-se no íntimo da concha.
As palavras, em hélice, padecem
a tortura do indeciso tempo.
Saltam da alma como peixes. Ficam
asfixiantes na aridez da praia.
As palavras batem contra o espelho
e evitam o rosto reflectido.
A etimologia emigra no silêncio.
As palavras resignam. É o reino
da esfinge, frio, imperturbável.
As palavras espantam-se no vento
do claro sol, da limpidez da água.
Os archeiros d'El-Rei pisam a noite
e exigem-lhe à entrada o passaporte.
O frio gládio alveja o peito
e as puríssimas vestes poisam, lentas.
Revistam-lhes as tranças e o sorriso
e, mesmo assim, a sentinela embarga
o limiar da linha alfandegária.
As palavras vestem o cilício
da conturbada hora em que nasceram
palpitantes, vívidas, certeiras.
As palavras à esquina do silêncio,
rastejam ao luar, sob a fronteira.
(de Canto Submerso, Portugália editora, 1956)
Bem unidos façamos ó-ó
Há 3 horas
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