RUY CINATTI
A NOSSA SENHORA
Então, vida e tecla do visível
amparo dos mortais, ei-la, senhora
dos espaços siderais
e mãe na terra.
Cruzada pelas espadas
no coração - fruto sensível
que se mastiga com amor, com nojo -
adormece no sonho.
Gera mitos e lendas.
Conhece devaneios e surpresas:
mãos estendidas, joelhos
na pedra rija.
Vómitos de cera
honram-na em lágrimas
humedecendo faces
ou repentes de alegria.
Ei-la, portanto, senhora
nos espaços siderais
e na terra mãe
desamparada.
Seu olhar magoado
fere um intranquilo
raio de luz.
E entro no templo
onde milhares de mãos compadecidas
acendem círios.
Digo: Maria!
Ouço: Meu filho!
(de Corpo - Alma, editorial Presença, 1994 - colecção forma)
Ladainha dos póstumos Natais
Há 1 hora
3 comentários:
Que coincidência. Ainda hoje publiquei um poema inédito de Cinatti no Estrada. Podes ir lá espreitar.
Abraço
r
Caro Ruy, deve haver montes de poemas inéditos deste nosso ilustre homónimo. Quando criei este blog foi a pensar num hábito que ele tinha: fotocopiar os poemas que passava à máquina e ir distribuí-los pela rua.
Pois deve... e realmente é pena que não se possa reunir todos quantos por aí existem. Quanto a mim, vou contactar a equipa responsável pela edição da obra completa para lhes entregar o que está no "estrada"
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