28.8.06

[outros melros XLI e XLII]

ANA HATHERLY

Tisana 76


Era uma vez um melro de oiro mas pintado de preto. Do seu bico jorrava uma fonte em que se banhavam as grandes cadeiras de sessenta. Quando as filhas das cadeiras cresceram mandaram plantar árvores onde colocaram águias de prata de cujas axilas saíam cabeças de chumbo. Desde esse dia nunca mais pintaram o melro de preto.

(de 463 Tisanas, Quimera editores, 2006)


NUM HOTEL DE CINCO ESTRELAS - I

Em frente à minha varanda
um melro salta pelo jardim
e quando pára, alça a cauda
evitando o viés da instabilidade

Flâneur jovial
seu canto
enche de encanto o meu dia

Preciosa ilusão de alegria
como a criança saltando à corda
brinca
com as leis do fim

(de Itinerários, edições Quasi, 2003)

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