30.7.07

EMANUEL JORGE BOTELHO

(«O Grito» de Munch, revisitação)


8

vem de longe a calamidade, a imaginária sombra
dos lábios próxima do grito. era assim já a subida do sangue
e nós de bibe e coiro traçado
aos ombros. não nos pesava ainda a luxúria dos caules
aposta opaca na ardósia das consoantes. a ponte secular entre uma sílaba que se ganha ao hálito dos canaviais
era uma madeira a resistir ao meio dia, o líquido engomado e branco que árvore, irmã?
dava tanta casa a essa fala verde
próxima de todas as margens. sentada na mesa
a mão sempre baixa, vogal do funcho

(de Cesuras, Gota de Água e Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1982)


EDVARD MUNCH


O Grito, 1893
têmpera sobre cartão
83.5 cm x 66 cm
Oslo, Munch-museet




EUSEBIO LORENZO BALEIRÓN

E. MUNCH: «O grito»


O tempo é um estadio
entre o tempo e a morte.

A luz un punto esvaído
en dirección ao vento.

O silencio ten ollos
e míranos do fondo do bosque.

Eu xogo con peixes de trapo,
salouco un anaco no escuro
e berro cara ao río con todas as miñas forzas.

(de Os Dias Olvidados, 1985)

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